quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ponta Baleia

 Mais uns dias a entrevistar simpáticas senhoras sem vergonha nem roupa interior ou com vergonha mas sem sapatos, ou a dar de mamar ao bebé ou a cortar o búzio ou a escolher o peixe. (Também entrevisto homens.) Desta vez descemos até Ponta Baleia onde nos esperava a Ina e a sua família adorável que nos recebe sempre tão bem. Lembro-me de ter dito que Santa Jeny era das comunidades mais porcas mas retiro o que disse. Em Ponta Baleia, sempre que meto o pé na poça, penso em tacanhas e parasitas. E com tanta lama, isso acontece com alguma frequência.
 Desta vez não houve as tradicionais "danças" para dar a volta às senhoras que pedem arroz furiosamente, nem apareceu o batalhão de criancinhas que me ajuda a montar o amoque. Estava frio e chuva, e isso muda  toda a comunidade. As pessoas estão mais abrigadas, mais caladas, mais acolhedoras. Fiquei tanto tempo simplesmente ali, sentado, a olhar com um sorriso idiota para tudo o que me passava à frente.


 A antena desenrascada com pedaços de metal, a cozinha de madeira com as galinhas por baixo, o senhor a escolher os grão de cacau, as mulheres a cantarem enquanto lavam a roupa, a menina do outro lado a olhar para mim.


 E no fim do trabalho é altura de partir para a próxima. Da ultima vez houve alguém (ainda estou para perceber quem foi o percursor daquela ideia genial) que me perguntou se eu não me importava de ajudar a levar os garrafões de água até ao rio ao que eu muito educadamente respondi que não, até ao rio não haveria problema nenhum. Claro que passado vinte minutos ainda ali estava especado enquanto contemplava mais e mais senhoras a aproveitar a boleia até que toda a nossa bagagem teve que sair do próprio carro e ele foi transformado num camião cisterna cheio de garrafas de vidro e plástico e embalagens de detergente e bidões e baldes e basicamente tudo o que pudesse ser usado para transportar água.

 Numa passagem pelo rio aproveitei para explorar um pouco as profundezas desconhecidas. Nunca tinha ido tão fundo e fiquei bem impressionado com o que encontrei. Uma cascata toda fotogénica rodeada por margens imaculadas cobertas de musgos debaixo de lianas compunham a vista daquele lugar mágico. E ele continuava, eu ouvia o som da água rugir na distância. Da próxima vou ainda mais longe.

Adorei os tons azuis cristalinos desta água.

   E antes de voltarmos a casa passámos por Dona Augusta mas essa terá que ficar para o próximo post.

0 comentários:

Enviar um comentário