domingo, 20 de maio de 2012

Abrindo pombos 2

 Hoje foi um daqueles dias e como achei este post demasiado "politicamente correcto" para o meu gosto (e para o que realmente se passa), achei que devia rever o tema. Não haverá fotografias visuais mas tentarei o meu melhor para mostrar fotografias literárias do processo que é abrir pombos mortos e analisar a sua dieta. Talvez seja melhor não lerem isto ou voltarem mais tarde se comeram recentemente...    vá lá, a sério...                   ...não? Depois não digam que não avisei...!

 O primeiro contacto é sempre o mesmo, tirar um sem número de formas com penas de um saco preto das compras. Ao início parecem bem (ainda que mortos), tudo parece estar onde devia estar.
 Pesa-se e tal, até aqui tudo bem, mas quando chega a altura de medir a asa, cauda e bico é que as coisas podem começar a ficar mais... vermelhas. Asas penduradas pelos ligamentos, patas partidas no osso, tripas a sair por onde o chumbo entrou, as penas todas coladas com sangue coagulado, venha o diabo e escolha.
 Eventualmente chega a parte de depenar o bicho porque com o casaco não dá para ver a gordura nem para abrir o papo como deve de ser. Esta parte também é bastante má porque normalmente quando se puxam as penas, vem tudo o resto atrás, pele e a carne por baixo, então se o bicho estiver todo furado, só não vem o esqueleto. Há qualquer coisa verdadeiramente nojenta no som de pele a rasgar com um puxão mais forte.
 A certa altura será preciso fazer um golpezinho estilo Sweeney Todd e enfiar na entrada o tubo para espremer a pasta lá para dentro. Como muitas vezes os bichos são furados na zona do pescoço, não é invulgar a pasta vir toda ensanguentada, claro. De qualquer forma há sempre um fio de baba a sair do frasco no final e como a pasta tende a entupir à entrada, é preciso enfiar o dedo lá dentro e bater com o frasco na mesa para a convencer a descer.
 A certa altura também é preciso apanhar o cocó do bicho e o método é bastante semelhante ao usado para o papo. Espetar um tubo e espremer. Às vezes vem seco, outras vezes trás um visco amarelado que esse sim, tem um cheiro especialmente mau.

 Não, ainda não acabei. Na verdade só vamos a meio porque quando se regressa a casa falta analisar tudo o que foi recolhido.

 Tirar tudo o que estava nos frasquinhos, identificar, contar, pesar. Se for feito no próprio dia o cheiro nem é muito mau mas quando o "conteúdo" teve oportunidade de ir para o frigorífico (ou congelador) e sair novamente, aí sim, aromas indescritíveis formam-se dentro dos frascos. Cada um é uma experiência inteiramente única que no seu conjunto, e ao fim de várias horas, dão verdadeiramente a volta à barriga. E depois dos papos falta ver o cocó.
 Há bastante tempo, um grande professor meu alertou-nos que Ecologia envolvia quase sempre mexer no cocó dos bichos. Bolas, como ele tinha razão... basicamente a próxima hora é passada a espalhar cocó dos bichos em caixas de petri para ver se encontram-se sementes inteiras que poderiam ter sido dispersadas caso o bicho ainda voasse. Só para dar uma ideia de como este processo pode ser desesperante, acabei de processar 30 céssias e só encontrei 2 sementes de figo - coisinhas amarelas microscópicas. No final de espalhar o cocó pela caixa de petri uso a etiqueta que lá vinha como quem usaria papel higiénico e vai tudo para o lixo.

 Tudo isto parece muito mau, sem dúvida, mas acreditem que é um passeio no parque comparado com o que se fazia antes. Acho que nunca cheirei nada tão mau como quando abri e espremi cá para fora toda a papa verde que estava nos intestinos de pombos descongelados... (talvez aquela fuinha de BCV tenha sido pior... mas não por muito...) e depois as ténias que saem lá de dentro... eram tantas que pareciam entupir e preencher totalmente o intestino. Como raio é que o bicho vive assim? Ver ténias gigantes e mortas a saírem de um intestino mínimo e o cheiro de tudo aquilo, sim, é de trazer vómitos aos mais resistentes...

 Se no final deste post sentem-se com um nó na garganta, pouco apetite e talvez uma vontade de lavar as mãos, então consegui transmitir o que eu próprio estou a sentir agora.

1 comentários:

  1. MEDO! Apesar da ausência de fotos, acho que a descrição está suficientemente visual para nos proporcionar a mesma experiência que tu... yuck!

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