terça-feira, 10 de abril de 2012

Na cidade

 Motas, taxis e hiaces tão sobre-lotados como apressados e pessoas a correr à frente deles enquanto tentam atravessar a estrada cheia de poças e buracos.
 Cheiro a fumos e poluição em todas as suas vertentes mais variadas.
 As pessoas falam muito e muito alto, todas extremamente expressivas dentro e fora dos carros, onde têm que se cumprimentar com as buzinas.
 Mulheres desfilam nas ruas enroladas em tecidos coloridos, carregando na cabeça alguidares de fruta e nas costas, embrulhados em mais tecido, bebés gordinhos de pernas abertas e cabeça pendurada.
 – Psss, branco, branco! – Chamam os motoqueiros.
 – Não obrigado.
 – Branco. Branco. – Chamam as mulheres da fruta.
 A t-shirt toda colada nas costas e sarapintada com manchas de suor no peito. As mãos sentem-se, humedecidas. “Preciso de outro duche.”
 Os passeios todos rebentados e com pequenas selvas a brotar nos lugares mais incríveis. Cabras a passar ao lado do Palácio do Governador e cães totalmente esqueléticos a tentar saltar para dentro dos contentores do lixo.
 Passarinhos minúsculos azuis, vermelhos e castanhos que nos prendem o olhar e levam-nos a atenção quando levantam voo. 
 Centenas de miúdos a vir da escola todos de uniforme, brincando uns com os outros, pegando nas réguas como se fossem machins, enquanto uns poucos ficam por aí a fazer tempo enquanto puxam charocos do canal conspurcado da cidade.
 À noite, galos e cães que parecem revezar-se para poderem fazer barulho sem nunca pararem  e as formigas que entram e saem do teclado do portátil enquanto escrevo isto.


1 comentários:

  1. Que publicação maravilhosa! Na retórica clássica, diria que é ecfrástica! :D Quero ir a S. Tomé!

    Abraço,
    Gabriel

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